domingo, 9 de agosto de 2009

Politicagem.


O Presidente Lula não gosta de mim. Não posso afirmar isso com cem por cento de certeza, mas as chances de eu estar certa são muito grandes.
Primeiro ele me culpou pela crise no país, na seguinte declaração: “Não temos o direito de permitir que sejam os pobres, que viajam o mundo à procura de uma oportunidade, sejam os primeiros a pagar por uma conta feita pelos ricos. Nenhum negro e nenhum índio (desencadeou a crise). É uma crise causada e fomentada por comportamentos irracionais de gente branca de olhos azuis que, antes da crise, parecia que sabiam tudo e agora demonstram que não sabiam nada" (grifo meu). Fiquei um pouco constrangida, confesso que não sei o que fiz para causar tal problema; só fiquei insegura de dizer que não sabia de nada, porque poderiam dizer que estava plagiando nosso presidente, mas, confesso que não sabia mesmo.
Tentei procurar alguns amigos com as mesmas características que eu e descobri que não tenho nenhum que atenda os requisitos e que seja muito próximo para trocar idéias sobre essa culpa.
Cogitei, então, a possibilidade de ter um bate-papo com o presidente para esclarecer essa questão e, quem sabe, encontrar um meio de reverter aquilo que, sem saber como, quando ou porque, criei. Parto do pressuposto de que ele está certo, de que eu faço parte do grupo dos culpados, independente de qualquer coisa. Aliás, não só eu, como todo um grupo definido pelas mesmas questões de biotipo.
Não sei se ele foi preconceituoso, se teve embasamento fático ou o que levou em conta para proferir tal declaração. Só sei que fiquei estarrecida.
Mas, voltando ao assunto, pensei em conversar com o presidente. No entanto, seria deselegante chegar logo de cara perguntando "por que sou culpada pela crise?". Parece patético.
Resolvi pensar em um assunto interessante para falar, uma conversa preliminar, antes de debater política. Política?! Um assunto que sou meio fraquinha, mas, espero eu, que ele tenha maior conhecimento. Não importa.
Pensei em abrir a conversa falando de futebol. No entanto, sei pouquíssimas coisas sobre ese tema, ademais, torço para o Flamengo... Sou do interior do estado do Rio de Janeiro. É o time que mais sei. Ele, é Corinthiano. Se mal entendo do futebol carioca, o que dirá do paulista. O único fato marcante que sei, é que o Ronaldo está no Corinthians, mas, os dois andaram trocando farpas, imagino que não seria uma boa abordagem.
Talvez pudéssemos tomar uma cervejinha amiga. Talvez, porque eu não bebo. Não sei como reagiria a alguns copos. Fora isso, preciso dirigir meu próprio carro, o que seria fora de mão, visto que temos a Lei Seca. Sorte dele ter motorista.
Sobre o desarmamento, não daria. Ele era a favor, no referendo, eu fui contra.
Lula, em dados momentos, apoiou a Dilma e o Sarney. Eu descartava os dois. Ele parou de estudar na quarta série, eu, cheguei na Universidade e não lembro de muita coisa da quarta série.
Assuntos iam e viam na minha cabeça, mas, nada que fosse interessante ou que pudesse render uma boa abordagem.
Decidi me contentar, afinal, foi uma acusação de nada. As pessoas tem memória curta, logo esqueceriam.
A crise está aí, muitos dizem que não a vêem. Para evitar que me acusem de algo, fico quieta. Não sei qual é o meu nível de culpa nessa história toda e, nunca quiseram me esclarecer.
Quando eu relevei a situação, o presidente não ficou contente e me atacou de novo, dessa vez, me chamando de imbecil.
Deve fazer isso só porque é "O Cara" e eu sou "A Desconhecida". Não é possível. Só porque eu não apóio o bolsa família? Acusação injusta. Eu não apóio por motivos próprios, poderia explicar aqui, porém, ninguém quer me ouvir. Agora, quando falo isso, me chamam de imbecil logo de cara. Perdi a chance de falar, de expor minha opinião. Imbecil, sem direito a me justificar.
Achava que vivíamos na democracia representativa, onde elegemos um representante para defender os interesses do povo (nosso interesse).
Eu não votei no Lula, talvez, seja uma represália por causa disso... Como não votei nele, agora, o objetivo é macular minha imagem.
Por sorte, até o momento, só recebi indiretas. Acusações genéricas. De qualquer forma, começo a ficar preocupada.
Acho que estou no país errado. Não quero um representante que me ataca, aliás, que ataca uma parcela do povo... O povo que ele deveria representar. Tudo bem que estou falando de uma minoria.
Se ele me descobrir... E descobrir o que penso, vou dançar de verdade. Talvez seja exilada, imagino a manchete "Garota Imbecil, causadora da crise é expulsa do país por seu alto grau de periculosidade e olhos azuis".
Estou ficando assustada, acho que vou me esconder... Essa liberdade de expressão não está com nada não. Vou ficar quieta e... Desculpá-lo. Não deve ser proposital. Ele não deve me achar imbecil de verdade. Foi só um surto, por não saber bem o que falar na ocasião. Ou então, uma forma de melhorar sua campanha. Ele vive em campanha.
Vou relevar novamente.
Só espero que as acusações não subam de nível ou que se instaure uma perseguição. Se isso acontecer, realmente terei que fugir daqui.

Escrito em 9 de agosto de 2009.
Por Roberta Aline.

4 comentários:

  1. Nosso querido presidente foi um tanto infeliz ao esteriotipar os causadores da crise como sendo as pessoas "brancas e de olhos azuis", mas no Brasil a coisa funciona mais ou menos assim: Muita coisa é dita e pouca coisa tem embasamento fático. Eles dizem o que querem pois acham que estão "acima da lei"(e algumas vezes estão) e são os "bam bam bans da parada".
    Tanta coisa acontece no nosso país que eu fico perplexo. Ainda mais quando algo sai fora dos eixos e é perfeitamente normal para eles culparem a minoria "branca de olhos azuis", já que foi a maioria que os colocou no poder. Dificilmente eles vão falar que (exemplo)"O Brasil não tem mais dinheiro por causa da gente morena estúpida de olhos castanhos ou pretos que só estão afim do bolsa-família e não arrumam um jeito de se qualificarem, arrumarem um emprego e deixarem de usar esse "apoio"".(/exemplo)...Enfim, não to dizendo que se caso isso aconteça eles vão dizer ou não dizer isso, mas realmente é difícil imaginar um político criticar a maioria da população que o colocou lá.

    Texto perfeito, Roberta!
    (escrevi demais u.u)

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  2. Sou contra racismo. Mas a estatística está a favor do comentário infeliz do nosso presidente xD. E o Caio tá errado. Da forma que ele fala é como se as pessoas escolhessem precisar do "bolsa esmola".
    Eu queria poder escolher como o Caio diz, aí ia escolher ser milionário. xD

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  3. Nossa adorei esse texto, muito bom mesmo! Por que você não manda pra um jornal? Aí até podem publicar, sei lá... mas você escreve muito bem, Line ^^ e gosta de escrever né? Esse é o maior segredo pra fazer algo bem feito. Seu humor ácido é uma delícia haha xD Beijãoo

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